O que o futuro quer de nós
Com experiência em capital de risco, finanças, fusões e aquisições e transporte e mídia, Bibop Gresta é considerado internacionalmente um especialista em mobilidade avançada e tecnologias da 4ª Revolução Industrial. Como cofundador da Hyperloop Transportation Technologies (HTT), Gresta liderou uma equipe de 800 profissionais em 40 países. A HTT foi a primeira a iniciar o desenvolvimento do hyperloop e é a maior empresa já construída dentro de um ecossistema colaborativo de negócios. Sob a liderança de Gresta, a HTT vem revolucionando tanto a mobilidade como modelos de negócios ultrapassados. Em 2018, o Fórum Econômico Mundial declarou a empresa como “pioneira em tecnologia”.
É também palestrante e já fez apresentações em eventos como o Fórum Econômico Mundial e o TEDx e apareceu em meios de comunicação como a CNBC, a CNN, o Times e a Forbes. É um pensador em empreendedorismo ético, transumanismo e sustentabilidade, e já deu palestras em algumas das mais prestigiadas universidades do mundo. Palestrante no primeiro encontro da Rede Alumni, do ITL , realizado em março, Bibop Gresta concedeu à Revista CNT Transporte Atual a entrevista a seguir, repleta de reflexões sobre inovação, o futuro do transporte e que tipo de perfil profissional está mais preparado para navegar um mundo altamente volátil.
Revista CNT | Idealizado por Elon Musk, o hyperloop é uma espécie de trem de altíssima velocidade que viaja no vácuo. O senhor pode nos falar sobre esse conceito e quais as dificuldades para implantá-lo?
Bibop Gresta | Todos falam que é um projeto do Elon Musk, porém o primeiro protótipo data de mais de 150 anos. Na década de 1870, um sistema de teste usava um tubo de vácuo pneumático para propulsionar as pessoas em Manhattan, Nova York. Em 2013, a fala de Musk deu visibilidade a isso. Quando eu estava na Califórnia, contatei Musk e ele disse estar com vários projetos, como a Space X e a Tesla, e que não iria apostar no hyperloop. E foi então que criei a Hyperloop Transportation Technologies, a primeira empresa que realmente apostou nessa tecnologia. Ao verificarmos que seria preciso um grande aporte de dinheiro, buscamos mais de 800 engenheiros de todo o mundo e, com um grande projeto de financiamento coletivo, conseguimos mais de € 200 milhões. Hoje, após 10 anos, temos 12 projetos em estudo ao redor do mundo — porém a pandemia da covid-19 acabou parando quase todos. Em 2019, escolhi o projeto da Itália — por ser um país que, após a Segunda Guerra, construiu 30 mil quilômetros de redes de estradas, com corredores laterais que podem ser utilizados para o projeto —, que estava mais adiantado, e criei a Hyperloop Itália.
Revista CNT | Em 2018, a HTT escolheu Contagem (MG) para montar um polo de pesquisa e desenvolvimento, mas a negociação não avançou. O que deu errado?
Bibop Gresta | O problema foi político. Eu fui ao Brasil e fiquei dois meses conversando com vários políticos para a execução de uma linha do hyperloop e criar um centro de pesquisa. A proposta poderia ser realizada com fundo privado da minha empresa e de outras que estivessem interessadas. Com o novo governo, existe uma expectativa de tentarmos novamente com a HTT, na qual continuo como acionista. O Brasil tem todos os requisitos para o projeto, com alta densidade populacional e escassez de transportes eficientes, tanto de cargas como de passageiros. Seria possível levar 24 milhões de passageiros por ano com apenas um tubo de hyperloop.
Revista CNT | Qual é o papel do ecossistema de inovação para o desenvolvimento do transporte e da logística de um país?
Bibop Gresta | Quando se fala de inovação, precisamos pensar em fazer um salto no futuro em termos de processo e, depois, voltarmos para vermos como chegar àquele objetivo. Entender qual é a real possibilidade com os instrumentos que temos agora e como evoluí-los. Precisamos de uma base tecnológica sólida que guie a inovação. No Brasil, é preciso introduzir eficiência e implementar inovações que tragam abundância econômica e social.
Revista CNT | E sobre mobilidade, o transporte individual continuará sendo uma opção?
Bibop Gresta: Durante a pandemia da covid-19, a loucura de vender carros foi incrementada e, hoje, em alguns lugares, temos dois carros por habitantes. O transporte individual vai gerar um colapso no sistema de transporte. Todos os planejadores de trânsito sabem que o sistema de transporte individual não tem futuro. Não necessitamos de carros mais limpos, precisamos de menos carros e de um transporte público eficiente, que otimize o serviço e produza sistemas mais ágeis.
Revista CNT | Você já citou em outras entrevistas que sua geração teve Steve Jobs e Mark Zuckerberg como modelos. Hoje, quem são os expoentes em inovação que todo jovem deveria conhecer?
Bibop Gresta | Gosto muito do período que vivemos, que é diferente do da minha geração. Tivemos modelos questionáveis, como o Michael Jackson. Agora, os jovens possuem exemplos de pessoas empreendedoras que realizam algo, como Elon Musk, que está criando um futuro diferente e uma revolução nos modelos tecnológicos. São pessoas que decidem e mudam as coisas.
Revista CNT | O senhor já fundou várias empresas e startups. O que o motiva a empreender?
Bibop Gresta | O que me motiva diariamente é o hyperloop italiano. Essa é uma oportunidade concreta de colocar um projeto completo em uma linha que funcione. Agora, tenho a possibilidade de provar todo o sistema. Isso toma toda a minha atenção.
Revista CNT | O que um profissional precisa saber para se diferenciar no mercado?
Bibop Gresta | A primeira coisa é talento, o que significa pessoas com consciência e multidisciplinares. Eu não acredito em jovens que escolhem um único caminho. Primeiro, é preciso conhecer várias coisas para, só depois, especializar-se. É necessário ser humanista e também cientificista. Não existe cientista que não é artista.
Revista CNT | O senhor é palestrante no primeiro encontro da Rede Alumni, do ITL. Qual é a importância desse tipo de evento para incentivar talentos e abrir horizontes?
Bibop Gresta | Esse tipo de evento é importante, pois cria uma plataforma de conhecimento na qual se encontram ofertas e demandas do mercado, dos profissionais e do transporte. É fenomenal. E a organização da Rede Alumni é única no Brasil e na América do Sul. Vai permitir que as pessoas se encontrem e troquem novidades e informações que visam à inovação e à busca de soluções.
Revista CNT | Qual conselho o senhor deixaria para os alunos a respeito de inovação e da busca por novas competências?
Bibop Gresta | O primeiro conselho é: “seja curioso e não tenha foco”. Experimente coisas diferentes. Se você está satisfeito com o que têm hoje, alguma coisa está errada. Siga a curiosidade e não a paixão, que é algo que você já sabe. A curiosidade é diferente, pois ela traz um mundo totalmente novo.
Fonte: Agência CNT Transporte Atual