A transição energética já começou
No setor de transporte, a transição energética está a todo vapor. A redução das emissões de carbono se tornou um imperativo e o uso de combustível fóssil começa a sair de cena. Um exemplo disso é o recém-aprovado projeto do Parlamento Europeu que proíbe os países do bloco de comercializarem veículos novos com motores a gasolina e diesel a partir de 2035. Nessa esteira, no Brasil, várias empresas têm investido em fontes alternativas de energia e em frotas mais modernas e eficientes. Além do aspecto ambiental, as mudanças acarretam melhora na qualidade de vida dos motoristas, que são submetidos a menos barulho e poluentes. O movimento sinaliza que o setor está atento às boas práticas de ESG (ambiental, social e governança).
Apresentamos, a seguir, os cases de três empresas nacionais que estão adiantadas nesse processo – e já colhem bons frutos.
Frota elétrica e guiada por mulheres
Expoente no transporte de encomendas, a Braspress atende todo o território nacional. A companhia, com sede em Guarulhos, emprega, desde o segundo semestre de 2021, uma frota eletrificada que atende empresas do ramo do varejo, consumo, tecnologia e saúde na região central da capital paulista. Conduzidos exclusivamente por mulheres, os elétricos da montadora chinesa JAC Motors geram zero emissão de poluentes; possuem uma autonomia de 200 quilômetros; e transportam até quatro toneladas.
Cada caminhão elétrico roda de 200 a 250 quilômetros por dia. Se fossem movidos a diesel, consumiriam 47 mil litros de combustível por ano, gerando um custo de R$ 273 mil no período, calcula o diretor de Frota da Braspress, Urubatan Helou Junior. “Em 2022, deixamos de emitir 677.120 toneladas de CO2 na atmosfera. Além disso, deixamos de pagar cerca de R$ 150 mil em multas de rodízio, pelo fato de os elétricos terem isenção na cidade de São Paulo”, acrescenta. A mecânica mais simples também é considerada um trunfo pelo gestor, que diz economizar até R$ 22.500,00 em manutenção por mês.
Para a recarga dos caminhões, a Braspress trabalha com dois fornecedores de energia sustentável. “Compramos dessas empresas e, hoje, a nossa matriz e dez filiais utilizam essas fontes, que vêm de painéis solares e energia eólica”, detalha. Como vantagem adicional, Urubatan Helou Junior cita que os veículos elétricos são automáticos. “De acordo com as próprias motoristas, é nítida a redução do cansaço no fim da rota, pela leveza da direção e ausência de câmbio e embreagem”, finaliza.
Esforços para zerar emissões até 2050
Quem também utiliza caminhões elétricos de pequeno porte em suas operações urbanas é a DHL Supply Chain. A empresa internacional de logística, armazenagem e distribuição, que atua no Rio de Janeiro (RJ), na Grande São Paulo e na região de Campinas (SP), emprega esses veículos para o atendimento ao mercado de varejo, ecommerce, moda, consumo e insumos médicos, entre outros.
O primeiro elétrico foi adquirido em 2016 e, hoje, a frota conta com 81 exemplares. “Temos planos de chegar a 120 veículos ao longo de 2023, o que expande bastante nossa gama de cobertura de serviços com zero emissão de CO2. Esse projeto, inclusive, ganhou destaque global, não só no quesito sustentabilidade, mas igualmente diversidade, devido a termos mais de 50% do quadro de motoristas mulheres”, exalta Solon Barrios, vice-presidente de Transportes da DHL Supply Chain.
Barrios estima que as aquisições tragam uma economia de 20% com manutenção mecânica. “Porém, por ser uma frota nova, é preciso pelo menos cinco anos de operação para ter esse dado totalmente consolidado”, ressalva. Ele explica que a empresa trabalha com a meta de zerar emissões até 2050.
Por fim, o vice-presidente lembra que os elétricos trazem maior conforto em termos sonoros e gozam de isenção de impostos. “E a falta de restrições de locomoção nas grandes cidades acaba agilizando as entregas”, pontua. Quanto à recarga dos veículos, a empresa lançou, em 2020, o primeiro centro de distribuição, com uma usina solar no teto, que gera quase toda a energia de que necessita.
Primeira no Brasil a operar com caminhões GNL
O GNL (gás natural liquefeito) é um combustível menos poluente e mais econômico se comparado à gasolina e ao diesel. Em 2019, a Morada Logística, de Americana (SP) com filiais e pontos de apoio espalhados pelo país, foi a primeira empresa do Brasil a testar caminhões movidos a GNL em sua frota. Os modelos da Scania da utilizados transportam suco de laranja de Matão, no interior paulista, ao Porto de Santos, no litoral do estado, em uma rota de, aproximadamente, 800 quilômetros. O reabastecimento acontece em Limeira (SP).
Em nota enviada por sua assessoria, a Morada Logística afirma possuir cinco caminhões movidos a GNL e 25 movidos a GNV (gás natural veicular). O uso desses veículos implicou uma redução de 10% no custo do quilômetro rodado, além de as emissões terem sido sensivelmente reduzidas. “Com os veículos GNL, em um comparativo com os abastecidos a diesel, deixamos de emitir 58 mil kg de CO2 na operação. Vale ressaltar que caminhões novos, adquiridos em 2022, já contam com tecnologia de motor Euro 6, que só chegou aos motores a diesel em janeiro deste ano”, detalha. A nota ainda explica que a tecnologia do motor é voltada para redução de NOx (óxido de nitrogênio) e material particulado, de modo a melhorar a qualidade do ar. Em relação à economia no custo de peças e manutenção, cita que o valor está próximo dos caminhões movidos a diesel. A empresa também esclarece que os motoristas não “precisam de nenhum treinamento específico, sendo somente explicado o funcionamento do equipamento e o que fazer em caso de emergências”.
Além dos equipamentos movidos a gás, a Morada Logística investiu na aquisição de caminhões elétricos, que estão atuando em Campinas (SP), em operações de carga fracionada – investimento que representa uma redução de cerca de 50% no custo do quilômetro rodado.
Combustível é um dos fatores
A Pesquisa CNT Perfil Empresarial – Transporte Rodoviário de Cargas mostra que, a cada cinco empresas ouvidas, quatro apontam o preço do óleo diesel como o item de maior dificuldade para quem opera no TRC. O insumo representa quase 50% dos custos totais de operação.
Fonte: Agência CNT Transporte Atual